domingo, março 13, 2016

A Redoma de Vidro - Sylvia Plath

  No comments    
categories: 

A Redoma de Vidro é o único romance da escritora e poetisa Sylvia Plath. O livro tem como protagonista Esther Greenwood, uma garota de Boston que ganhou a chance de trabalhar como estagiária em uma grande revista feminina. Como parte do estágio, Esther se muda para Nova Iorque e o começo da novela mostra ela aproveitando a cidade, os banquetes, os presentes, a boa vida. Os problemas começam quando Esther tem que voltar pra Massachusetts e não sabe muito bem o que fazer a seguir.
Fiquei bastante surpresa com esse livro, o começo dele me pareceu bem bobinho e não estava conseguindo entender porque ele era tão famoso. Mas a partir do momento que Esther volta para casa, a coisa muda e foi um choque perceber que a protagonista estava sofrendo um colapso nervoso.
Uma das coisas que provoca mais agonia em Esther é a expectativa que ela se case com o namorado Buddy Willard e passe a viver, vivendo à sobra do marido:

Parecia uma vida melancólica e desperdiçada para uma garota com quinze anos seguidos de notas A, mas eu sabia que os casamentos eram assim, porque cozinhar, limpar e lavar era tudo o que a mãe de Buddy Willard fazia, e olha que ela era casada com um professor universitário e tinha dado aulas numa escola particular.
...
E eu soube que, apesar das rosas e dos beijos e dos jantares que o homem despejava sobre a mulher antes do casamento, o que ele secretamente desejava depois da cerimônia nupcial é que ela se estendesse sob seus pés como o tapetinho de cozinha da sra. Willard.

Angustiada cm essa perspectiva e sem saber o que fazer a seguir, Esther acaba tentando o suicídio. A partir daí o livro passa a narrar os tratamentos a que ela é submetida, e tem alguns trechos de cortar o coração, como quando ela recebe choques:
Fechei os olhos. Houve um breve silêncio, como uma respiração suspensa. Então alguma coisa dobrou-se sobre mim e me dominou e me sacudiu como se o mundo estivesse acabando. Ouvi um guincho, iiii-ii-ii-ii-ii, o ar tomado por uma cintilação azulada, e a cada clarão algo me agitava e moía e eu achava que meus ossos se quebrariam e a seiva jorraria de mim como uma planta partida ao meio. Fiquei me perguntando o que é que eu tinha feito de tão terrível.
O livro é semi-biográfico, Sylvia sofreu com depressão durante sua vida, e um mês após o lançamento a autora se suicidou.

Áudio de Sylvia lendo um de seus poemas, Tulips:




The tulips are too excitable, it is winter here. Look how white everything is, how quiet, how snowed-in.    I am learning peacefulness, lying by myself quietly As the light lies on these white walls, this bed, these hands.    I am nobody; I have nothing to do with explosions.    I have given my name and my day-clothes up to the nurses    And my history to the anesthetist and my body to surgeons. They have propped my head between the pillow and the sheet-cuff    Like an eye between two white lids that will not shut. Stupid pupil, it has to take everything in. The nurses pass and pass, they are no trouble, They pass the way gulls pass inland in their white caps, Doing things with their hands, one just the same as another,    So it is impossible to tell how many there are. My body is a pebble to them, they tend it as water Tends to the pebbles it must run over, smoothing them gently. They bring me numbness in their bright needles, they bring me sleep.    Now I have lost myself I am sick of baggage—— My patent leather overnight case like a black pillbox,    My husband and child smiling out of the family photo;    Their smiles catch onto my skin, little smiling hooks. I have let things slip, a thirty-year-old cargo boat    stubbornly hanging on to my name and address. They have swabbed me clear of my loving associations.    Scared and bare on the green plastic-pillowed trolley    I watched my teaset, my bureaus of linen, my books    Sink out of sight, and the water went over my head.    I am a nun now, I have never been so pure. I didn’t want any flowers, I only wanted To lie with my hands turned up and be utterly empty. How free it is, you have no idea how free—— The peacefulness is so big it dazes you, And it asks nothing, a name tag, a few trinkets. It is what the dead close on, finally; I imagine them    Shutting their mouths on it, like a Communion tablet.    The tulips are too red in the first place, they hurt me. Even through the gift paper I could hear them breathe    Lightly, through their white swaddlings, like an awful baby.    Their redness talks to my wound, it corresponds. They are subtle : they seem to float, though they weigh me down,    Upsetting me with their sudden tongues and their color,    A dozen red lead sinkers round my neck. Nobody watched me before, now I am watched.    The tulips turn to me, and the window behind me Where once a day the light slowly widens and slowly thins,    And I see myself, flat, ridiculous, a cut-paper shadow    Between the eye of the sun and the eyes of the tulips,    And I have no face, I have wanted to efface myself.    The vivid tulips eat my oxygen. Before they came the air was calm enough, Coming and going, breath by breath, without any fuss.    Then the tulips filled it up like a loud noise. Now the air snags and eddies round them the way a river    Snags and eddies round a sunken rust-red engine.    They concentrate my attention, that was happy    Playing and resting without committing itself. The walls, also, seem to be warming themselves. The tulips should be behind bars like dangerous animals;    They are opening like the mouth of some great African cat,    And I am aware of my heart: it opens and closes Its bowl of red blooms out of sheer love of me. The water I taste is warm and salt, like the sea, And comes from a country far away as health.

segunda-feira, março 07, 2016

A Hora da Estrela - Clarice Lispector

  No comments    
categories: ,

Ai, como falar de um livro que eu detestei do começo ao fim?
A Hora da Estrela conta a história de Macabéa, uma mulher sem atrativos, como o narrador não nos cansa de falar.
Mas a pessoa de quem falarei mal tem corpo para vender, ninguém a quer, ela é virgem e inócua, não faz falta a ninguém.
Durante o livro todo, a personagem principal é diminuída e humilhada. O livro tem apenas 88 páginas, mas pra mim pareceu que tinha mais de 800, porque foi extremamente desagradável ficar o tempo todo tendo que ler como essa mulher é insignificante, não faz falta pra ninguém e não possui nenhum atrativo.
Sério, não consigo entender o propósito nem como alguém pode gostar desse livro.
O que eu acho mais absurdo é que esse livro é bastante indicado como leitura para vestibular. Fico pensando o que passa na cabeça de uma pessoa para indicar um livro assim para uma pessoa de 17 anos.
Depois se perguntam porque as pessoas não gostam de ler.

Trailer do filme feito sobre o livro:


quinta-feira, março 03, 2016

Férias – Marian Keyes

  No comments    
categories: 
ferias_marian_keyes1
Quando o primeiro livro de Marian Keyes – Melancia, foi lançado virou uma febre. Parecia que todo mundo estava lendo o livro. Na verdade toda mulher, já que a autora virou um dos expoentes da chamada chicklit.
Chick lit é um termo machista para um gênero de ficção dentro da ficção feminina, que aborda as questões das mulheres modernas. Chick-Lits são romances leves, divertidos e charmosos, que são o retrato da mulher moderna, independente, culta e audaciosa.*
*definição ótima retirada da Wikipedia
Sim, eu detesto o jeito que esse termo, que pode ser livremente traduzido como literatura de mulherzinha,  é usado para diminuir os livros dessa categoria.
No caso de Melancia, pode até ser um livro leve e com leitura fluída, mas trata de Clare, uma mulher abandonada pelo marido no mesmo dia do nascimento da filha do casal. Um assunto que não é exatamente motivo de risos.
Em Férias a formula se repete: trata da história de Rachel, irmã de Clare, que acha que tem uma vida maravilhosa em Nova Iorque. Mas há um problema: mesmo que não admita, Rachel tem um problema com uso de cocaína. Assim sendo, sua família resolve interna-la em uma clínica pra desintoxicação e ela só aceita ir porque acha que vai encontrar algo parecido com um spa, já que ela insiste que não possui um problema com drogas.

*** spoiler ***
Uma das coisas que eu mais gostei do livro foi justamente a maneira com que o vício da protagonista é tratado. No começo nós achamos a mesma coisa que Rachel: todo mundo é chato e exagerado e não há motivos pra tanta comoção. Só no final do livro que vamos entender que ela realmente possui um problema sério e essa parte é de cortar o coração.
O final ao estilo de Hollywood é uma gracinha e me fez rir e chorar ao mesmo tempo.
*** fim do spoiler ***

Eu adorei o livro, assim como já havia adorado Melancia. O jeito de Marian falar de assuntos delicados de uma maneira leve é uma delícia.

Agora preciso falar de uma coisa que me incomodou muito no livro: a tradução. Pareceu uma tradução feita às pressas, sem cuidado nenhum. O pior de tudo foi traduzir cheesecake como bolo de queijo. Sério, eu sei que tradutores trabalham com prazos apertados e não são bem remunerados, mas é preciso ter o mínimo de cuidado com o trabalho apresentado. 
Vídeo de Marian falando sobre Rachel e mostrando a bolsa dela:

quarta-feira, março 02, 2016

A Visita Cruel do Tempo – Jennifer Egan

  No comments    
categories: 
avisitacrueldotempo
Um livro que eu gostei da narrativa, mas detestei quase todos os personagens.
“É essa a realidade, não é? Vinte anos depois, a sua beleza já foi para o lixo, especialmente quando arrancaram fora metade das suas entranhas. O tempo é cruel, não é? Não é assim que se diz?” Bennie Salazar é um executivo da indústria fonográfica. Sasha é sua assistente cleptomaníaca. E é a partir da história desses dois personagens que Jennifer Egan retrata, em uma narrativa caleidoscópica, a passagem do tempo e a transformação das relações. Da São Francisco dos anos 1970 até a Nova York de um futuro próximo, a autora cria um romance de estilo ímpar sobre continuidade e rupturas, memória e expectativas*
*descrição do livro no Google Books
Foi muito difícil ler esse livro, porque no começo eu detestava todo mundo, em especial o Lou que tem bastante destaque. Motivo pelo qual eu abandonei o livro por um tempo. Mas a curiosidade me fez voltar, e no final acabei gostando bastante das histórias da Dolly e da Kitty. Fiquei feliz por ter voltado ao livro por causa delas, e porque a narrativa de Jennifer realmente é muito boa, sendo particularmente interessante a forma com que os personagens se conectam.
Nesse vídeo, Jennifer diz o que a inspirou a escrever o livro (em inglês):

A Garota da Banda – Kim Gordon

  No comments    
categories: ,
c2856e87-b518-434c-8526-560039fa61df
Kim Gordon é conhecida pela banda Sonic Youth, que formou ao lado de seu parceiro Thurston Moore. No seu livro autobiográfico ela conta sua jornada artística e momentos de sua vida pessoal. Bom ressaltar que Kim também é mais do que a garota da banda: ela também é curadora de arte, estilista e ensaísta.
O livro começa pelo fim. O fim da banda Sonic Youth, em sua última apresentação no Lollapalooza de 2011 que aconteceu no Brasil. Fica claro que a banda acabou porque o relacionamento de Kim e Thurston acabou e ela expressa sentimentos comuns à qualquer mulher abandonada. Aliás, deixo aqui uma péssima notícia aos fãs da banda: parece que não há possibilidade da banda voltar, existe muita mágoa ali.
O casal que todos acreditavam que era de ouro e normal e eternamente intacto, que deu a jovens músicos a esperança de que eles poderiam sobreviver no mundo louco do rock-and-roll, agora era apenas mais um clichê de um relacionamento maduro fracassado – uma crise de meia-idade masculina, outra mulher, uma vida dupla.
Eu adoro biografias, gosto de ver a impressão que as pessoas tem sobre a vida, momentos difíceis e de dúvida pelos quais todos passam. Dito isso, a parte que mais gostei desse livro foi a parte antes do Sonic Youth, especialmente a infância e adolescência, e o relacionamento difícil com o irmão que tem esquizofrenia.
Durante a hora do coquetel, que minha mãe e ele (o pai) nunca perdiam, ele fazia Martinis e Manhattans incríveis com uma coqueteleira que era mantida no congelador o tempo todo. Isso era no final dos anos 1950 e início dos 60 – as pessoas levavam a sério a hora do coquetel.
A parte em que ela conta sobre a banda, acaba sendo uma enumeração de fatos e canções, que eu não achei tão interessante porque não conheço tanto o Sonich Youth. Mas quem é fã com certeza irá adorar esse livro do começo ao fim.
Vídeo da música Kool Thing:

Vídeo da música Sunday, também conhecido como o clipe do Macaulay Culkin, que fez um sucesso incrível na extinta MTV:

terça-feira, março 01, 2016

A Casa dos Espíritos – Isabel Allende

  No comments    
categories: ,
casa
Quando eu era pequena sempre ouvi falar sobre A Casa dos Espíritos, provavelmente porque em 1993 foi lançado um filme baseado no livro com um elenco estrelar:
casa5
Apesar da fama da obra, nunca havia lido e nem sabia do que se tratava, e pelo título sempre achei que fosse uma história meio de terror ou sobrenatural. Mas não é nada disso. O livro conta a história de 3 gerações de mulheres tendo como pano de fundo a história do Chile.
Se e precisar descrever esse livro e apenas uma palavra, essa é: apaixonante! Amei do começo ao fim.
A narrativa é centrada nas mulheres: Nívea, Clara, Blanca e Alba. O motivo dos nomes terem praticamente o mesmo significado, é explicado: não se pode ter o mesmo nome na família, pois isso confunde a história.
Outro personagem importante é o de Esteban Trueba, que representa o pensamento conservador, cujas ações vão refletir severamente no futuro da família.
Em vão Pedro Segundo Garcia e o velho padre do hospital das montanhas trataram de lhe sugerir que não eram as casinhas de tijolo nem os litros de leite que faziam um bom patrão, ou um bom cristão, mas sim dar às pessoas um salário decente em vez de papelinhos cor-de-rosa, um horário de trabalho que não lhes moesse os rins e um pouco de respeito e dignidade. Trueba não queria ouvir falar dessas coisas que, segundo ele, cheiravam a comunismo.
O estilo de escrita de Isabel é chamado de realismo fantástico, mesclando história com alguns elementos irreais. Eu não achei a parte fantástica da história muito presente, existem alguns fenômenos aqui e ali mas tudo é tratado com a maior naturalidade.
Isabel também utiliza de um artifício para nos deixar interessados em acompanhar a história. Quando um novo personagem aparece ela já conta algo do futuro como: “A moça achou que naquele momento poderia dar a vida por seu irmão, mal sabia que isso se tornaria verdade.”. Esse tipo de frase me deixava louca de curiosidade para saber o que iria acontecer, então eu devorei o livro.
A parte final é a mais triste, pois conta do golpe militar que ocorreu no Chile em 1973 , culminado com a morte do presidente eleito, Salvador Allende, e colocando no poder Augusto Pinochet, dando início à uma das ditaduras mais violentas que o mundo já viu. Esta parte do livro se torna muito atual, agora que vemos alguns setores querendo tirar um governo eleito democraticamente.
Os ânimos estavam muito exaltados, especialmente entre as mulheres da oposição, que desfilavam pelas ruas batendo em tachos como protesto contra a falta de abastecimento.
A Casa dos Espíritos se tornou um dos meus livros favoritos da vida e com certeza irei ler outras obra da Isabel Allende.
Isabel deu uma palestra no TED sobre como viver apaixonadamente, não importa sua idade:

Aqui tem um trailer do filme, que foi um fracasso de público e crítica:

A Arte de Pedir – Amanda Palmer

  No comments    
categories: ,
capa_aartedepedir_web
Amanda Palmer já fez de um tudo, mas durante muito tempo pagou suas contas atuando como estátua viva nas ruas de Londres.
Este livro conta como ela aprendeu a pedir. Amanda questiona porque temos tanto medo de pedir, seria o medo da rejeição? Insegurança? Orgulho?
Confesso que só li esse livro porque ele estava na lista do Lugar de Mulher porque não conhecia Amanda e o assunto não me pareceu super interessante, tem alguns momentos bons, mas nada de sensacional. O livro é complementar à palestra que Amanda deu no TED, e que achei melhor que o livro em si.
Você pode conferir mais informações sobre o livro e a autora no site da editora Intrínseca.
A palestra no TED2013 você pode conferir nesse vídeo:


 

O começo

  No comments    

Olá!
Meu nome é Elyana e resolvi que 2016 será o ano onde eu retomo o caminho da leitura. Sempre gostei de ler e tenho a facilidade de ler muito rápido, mas por uma dessas coisas que a gente não tem explicação acabei parando de ler livros nos últimos tempos.
Para deixar essa minha retomada mais legal, resolvi fazer um ano apenas de leituras de autoras. Comecei seguindo a lista de 52 autoras do Lugar de Mulher, mas não estou me mantendo presa à ela.
Minhas únicas regras são: irei ler apenas mulheres e não irei repetir nenhuma autora.
Usarei esse blog para compartilhar alguns comentários e impressões dessa jornada.
Fique a vontade para me acompanhar ;)